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terça-feira, 8 de abril de 2014

Opa, Cadê a Economia?!

Será Que Ela Existe?


O que talvez seja o ponto mais polêmico da construção utilizando tijolo solo-cimento (ecológico), é a economia que muitos afirmam em dizer (eu inclusive já afirmei aqui) que esse método traz.

Realmente o custo com materiais básicos como cimento, areia, pedrisco, ferro, sem falar dos desperdícios com madeiras para caixarias, etc, é bem menor na construção usando o tijolo, se comparado com a alvenaria convencional. Enquanto o milheiro do tijolo solo-cimento é mais caro do que um bloco de concreto, tijolo baiano e outros, nos materiais básicos outros você acaba compensando a diferença, especialmente se pensar que o gasto com cimento é muito reduzido, uma vez que tudo será assentado na cola. Logo, uma vez mantido o acabamento da alvenaria em tijolo a vista, também há de se supor que a economia com reboque seja grande e mantenha a tal porcentagem que muitos outros sites e referências na construção utilizando solo-cimento, citam. Algo em torno de 30 a 40% de economia.

Pois bem, eu estou começando a questionar esses números. Explico: some os custos da resina acrílica, o rejunte flexível e a mão de obra referente a esses serviços. Divida isso por m² de alvenaria. Depois, levante o custo estimado por m² de um reboque bem feito, nivelado, prumado e pronto para aplicação de massa corrida. Considere os materiais básicos e também a mão de obra. Some também, nessa vertente, o custo dessa massa corrida e pintura, para deixar a parede acabada. Talvez ocorra uma surpresa quando for comparar os resultados.

Não vou fazer aqui nenhuma conclusão. Isso varia muito de região para região, disponibilidade da mão de obra, característica do projeto e escolhas do proprietário na questão do acabamento. Apenas fazendo um paralelo sem colocar valores, arrisco as comparações abaixo que podem te fazer pensar se realmente existe economia nessa fase:


  • O valor gasto com rejunte flexível equipara-se ao gasto em  materiais básicos do reboco (cimento, areia, cal, etc). Existem várias alternativas, mas sem dúvidas o rejunte flexível é o ideal para esse fim;
  • A mão de obra para rejunte, por ser menos comum de se encontrar e exigir certo capricho, pode ser mais cara que mão de obra para massa corrida. No melhor dos casos, há um empate aqui;
  • O custo da resina acrílica e sua aplicação pode facilmente superar o custo de pintura em uma parede rebocada. A resina tem o mesmo preço de uma tinta acrílica ou látex, mas o rendimento é menor, enquanto a mão de obra para aplica-la é igual a uma pintura comum.


Isso sem entrar no mérito do gesso e materiais alternativos de acabamento na alvenaria convencional.

Fica a dúvida pairando sob minha cabeça, uma vez que a primeira pergunta que fazem quando visitam minha obra é se compensa construir com esse tijolo. Por isso insisto que a resposta para esse tipo de questionamento não passe apenas pelo quesito custo, a decisão de usar o tijolo solo-cimento tem que ter outras fundamentações maiores, pois corre-se o sério risco de se ver frustrado se a intenção era tão somente economizar.




7 comentários:

  1. Denis, muito obrigado pela sua resposta e presença aqui. Sem dúvida pessoas como você, profissionais envolvidos com tijolo solo-cimento, têm mais fundamentação e base para falar sobre as características construtivas, isso fortalece a qualidade da informação aqui e ajuda na troca de experiências.

    A ideia que esteve em minha cabeça quando escrevi esse post é alertar que o custo por si só não deve ser o único motivo para se escolher com tijolo solo-cimento. Vejo que você concorda com esse aspecto. Mesmo para leigos, há um grande número de vantagens em adotar esse tijolo para construção e claro, devem ser consideradas também eventuais desvantagens. Alias, o que mais senti falta nas pesquisas que fiz, foram informações sobre possíveis desvantagens do tijolo, pois pesando na balança os dois lados é que se pode tomar uma decisão embasada.

    Quanto ao rejunte, me foi desencorajado utilizar a mistura da terra do tijolo + cimento. Me alertaram que poderia rachar e se desprender em algum momento. De qualquer forma, acho excelente essa opção e agradeço mais uma vez por ter compartilhado.

    Na resina, gostaria que me desse um exemplo comercial dessa resina hidrofugante. Sabe me dizer se existe algum produto de prateleira que sirva de exemplo? Até o momento só conhecia em detalhes a própria resina acrílica e o silicone. Legal ter mais opções pois realmente essa resina acrílica aumentou bastante esse custo que tive e estou tendo para impermeabilizar as paredes.

    Por fim, parabenizo-o pelo seu trabalho, pelas suas escolhas. Acredito que você tenha a oferecer um diferencial importantíssimo com a adoção de materiais alternativos e mais adequados com a sustentabilidade e reaproveitamento. Até pouco tempo atrás, tudo que envolvia a palavra "ecologico" passava a ser mais caro, como se fosse uma grife. Já hoje noto que as pessoas estão adotando métodos alternativos mais corretos e inteligentes por opção e isso tem feito com que se popularizasse soluções muito mais baratas nesse conceito de baixo impacto ambiental. Já não era sem tempo que revíssemos nossos métodos de construção e moradia.

    Por favor, opine, discorde, argumente o que achar que deve, pois como tenho dito aqui, minha experiência é de um leigo que pesquisou alguma coisa sobre e viveu/vive os aspectos de um universo muito limitado, que é o de minha obra. Quanto mais opiniões diversas e mais conteúdo partilhado aqui, mais sinto meu trabalho bem feito, no sentido de deixar um legado sobre tijolo solo-cimento que auxilie as pessoas a conhecer esse método e poder decidir o que melhor atende a elas.

    Um abraço.

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  2. Olá Wagner, tudo bem? espero que sim.
    Não sei se lembrará de mim, mas uns meses atrás trocamos umas ideias vc até me passou uma planilha resumo dos custos por etapas. Gostaria de aproveitar o tópico e compartilhar minha opinião.

    Eu estava decidido a usar o tijolo ecológico, mas depois de pesquisar na cidade que fui construir (região de Avaré) descobri que o fabricante desse tipo de tijolos de lá além de não ter a qualidade desejada, com tamanhos não uniformes, encaixes não me pareceram bons...etc. Além disso ouvi clientes reclamando que a empresa não entregou uma parte...
    Bom, acabei desistindo dessa opção, mas como gostei dá ideia de obra mais limpa, sem ter que quebrar para instalações elétricas e hidráulicas, melhor isolamento térmico e acústico, etc., então pesquisei e optei por bloco de vedação, tb tem o estrutural que é como o ecológico e pode usar os vãos do bloco como colunas distribuídas, mas como minha obra tinha alguns peculiaridades optei por colunas tradicionais e o bloco de vedação.
    Sei que o objetivo do blog é o tijolo solo cimento, mas gostaria se compartilhar minha opinião:
    O custo do m2 dos tijolos em si é, aparentemente maior, porém como o bloco é 4 vezes maior q o tijolo baiano, o que em tese economiza com argamassa no assentamento, e pelos cálculos teóricos era uma boa economia, incluía-se na conta a planicidade do bloco e da parede reduzindo tb o consumo de argamassa no reboco (quem quiser até pode usar tb a opção de tijolo a vista, eu vi e fica bonito, mas não é o meu gosto) e tb tinha o fator tempo que promete reduzir o custo da mão-de-obra.
    Conclusões:
    1. O bloco me pareceu realmente uma boa opção, a qualidade de alinhamento da parede foi mais fácil de se obter, e a velocidade tb foi um ponto comprovadamente interessante.
    2. a redução de consumo de argamassa não foi o mesmo apresentado na teoria que deveria ser 50%, comparado com outra obra ali perto concluí que foi algo real em torno de 15%. O objetivo creio não ter sido alcançado devido a falta de experiencia do pedreiro com esse tijolo, ocorrendo desperdiço de argamassa q acabava caindo para dentro dos buracos, mas acho que com treinamento adequado pode sim chegar a essa economia. No reboco eu ainda não fiz os cálculos comparativos, mas aqui o consumo de matéria bateu com a teoria, então a proposta de ter alcançado economia aqui foi atingida.
    3. Tb houve o ganho com a facilidade das instalações elétricas e hidráulicas
    4. assim como no solo simento esse bloco é bom isolante térmico e acústico, e como os furos não quadrados ao invés de redondos como os ecológicos, resolvi encher esses buracos com isopor de laje para aumentar ainda mais essa característica, pelo menos as pessoas q consultei tb consideram um ganho com essa opção, quanto? ninguém soube dizer, como para fazer isso no quarto gastei pouco mais de 200 reais, paguei pra ver. Acho q vai ser eficiente.
    4.2 Adicionalmente a característica isolante do solo cimento esse bloco é muito mais impermeável que o ecológico, o que achei mais uma boa vantagem
    5. outro ponto q achei importante foi as perdas, não houve perda de tijolos quebrados, se quebrou foi um 3 ou 4 no máximo, que acabaram sendo aproveitados de 1/2
    6. na ponta do lapis no final achei que não houve economia, mas certamente houve aumento de qualidade e redução de tempo, além de uma obra extremamente limpa.

    Portanto achei uma alternativa que se assemelha a alguns aspectos do tijolo ecologico e mostrou-se uma boa alternativa.
    espero ter contribuído com informação pra quem estiver pra construir.
    abraço

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    1. Daniel,

      Muito obrigado por compartilhar e contribuir, fico bastante feliz com isso.

      Acho até que respondi aqui em algum comentário para um interessado em construir com o tijolo, mas que não gostava do visual de tijolo a vista. Sem dúvidas, nesses casos, há de se considerar o bloco cerâmico. Continua a praticidade do estrutural e simplifica bastante as questões de aquisição do tijolo e principalmente mão de obra (apesar de ser muito semelhante).

      O mercado do bloco cerâmico é bastante consolidado, amplamente adotado, tirando da frente então alguns mitos e receios que ainda existem no conceito do tijolo solo-cimento.

      Acho que você tomou a decisão correta, se seu intuito no final seria realmente rebocar. Não que seja premissa do tijolo solo-cimento, ficar a vista, não existe essa obrigação. Porém, em determinados cenários onde se torna mais difícil trabalhar com o tijolo solo-cimento, abrir mão do benefício que se tem em não rebocar as paredes, pode ser o item a mais no lado da balança que represente as demais opções e aí entra fortemente o bloco cerâmico. Construiria com ele se não tivesse conhecido o tijolo solo-cimento.

      Espero que você tenha ótimos resultados, possa desfrutar desse visual maravilhoso de sua casa e que isso tudo faça valer todo seu esforço e dedicação. Tenho certeza que isso acontecerá!

      Um abraço.

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  3. Olá Wagner, blz? Parabéns pelo trabalho. Fiquei interessado em saber mais sobre os resultados do Danilo com blocos de vedação. Você teria o contato dele por acaso? obrigado. O meu é rui1975@hotmail.com

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  4. Muito bom! Tanto esse post, quanto o post dos “contra” à utilizar esses tijolos.
    Chegando a 4 anos e ainda há pessoas que torcem o nariz para esse tipo de construção.
    Eu pretendo construir em breve e estou “namorando” o uso do tijolo ecológico e realmente não encontrava até então os contras desse projeto.
    O primeiro contra foi exatamente como descrito no blog, a mão de obra especializada.
    Encontrei muitos vendedores de máquinas de construção dos tijolos para o famoso DIY, mas “nenhum” profissional para assentamento dos mesmos. Coloquei o “nenhum” entre aspas pois consultei um pedreiro que está fazendo o meu muro e ele disse que não compensa usar esses tijolos pois o profissional chega a cobrar 250,00 o metro pois ser mais difícil (?).
    Confesso que sou cético no quesito “mágica da construção barata e com qualidade”.
    Na verdade, sou cético quando algo é muito barato.
    Na parte ainda dos contras a essa solução de construção, faz-se pesar a questão de hidráulica como dito no blog, com isso pensei em utilizar tijolos na sala, quartos e onde há hidráulica, fazer com alvenaria convencional. Usando-se uma construção híbrida, se isso for possível.
    Sou leigo a nível de não conseguir assentar um tijolo reto, trabalho com sistemas e como qualquer pessoa da área de exatas, fazem cálculos, usam a lógica até ter certeza de que dará certo.
    A minha intenção seria a economia, mas lendo seus estudos e experiência, não será tão nítida.
    Obrigado pelo estudo e repassar sua experiência.

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    1. Farley, boa tarde!

      Eu sei porque as pessoas torcem o nariz para a construção: pois não tiveram informação suficiente para embasar suas decisões e agem por puro "pré-conceito". Isso é o principal desafio a ser superado nesse sistema construtivo.

      É a mesma lógica que seu pedreiro usou para dizer que é "mais difícil". Isso não faz absolutamente nenhum sentido e te mostro porque: a obra com tijolo solocimento é muito mais rápida, tendo minha casa (+ de 300 m² de alvenaria) sido elevada até respaldo de laje em 2 meses por basicamente 1 pedreiro e 1 ajudante. Que outro sistema possibilita isso? Outro fato: toda hidráulica e elétrica nasce embutida, sem cortes na parede, sem quebra-quebra, sem desperdício. Realmente é melhor cortar uma parede rebocada para colocar um simples ponto de luz? Não faz sentido. Mais um, para não me estender: fiada de tijolos assentada com cola branca ou argamassa, grouts, cintas de amarração embutidas nos vazados dos tijolos, sem caixarias, sem tábuas de pinus, sem aquele monte de cimento, areia e pedra. É mais fácil fazer caixaria de pilares e vigas na mão?!

      Agora, para deixar tijolo a vista, sem rebocar (outra facilidade), obviamente as alvenarias precisam subir em total prumo e nível e isso parece ser a maior dificuldade dos pedreiros tradicionais, pois eles desconhecem essas ferramentas "da NASA" como prumo e nível e preferem acertar tudo no reboco depois, por mais torto que tenha ficado. Entende?!

      MO aqui está na faixa 80~110 o m² da alvenaria. 250 nem em sonho. Seu pedreiro quer manter o paradigma dele bem vivo e o emprego garantido. Se todos que constroem conhecessem o tijolo solocimento e outros métodos estruturais, a maioria dos pedreiros que conheço morreriam de fome.

      Não vejo motivos para fazer a construção mista, você vai se zangar com a parte convencional. Não há desvantagem significativa de embutir a hidráulica na alvenaria do tijolo solocimento.

      A economia não pode ser o único balizador, por isso faço tantos alertas e disclaimers. Não se pode entrar nessa só pensando na economia, pois sem o devido cuidado com mão de obra adequada (capacitada e especialista, mas isso não quer dizer pós graduação e sim o mínimo de instrução e pensamento fora da caixa) e sem um projeto bem pensado, corre-se o risco de frustração e aí o que acontece: vai falar mal do tijolo pro resto da vida.

      Fazer as coisas fora dos métodos tradicionais exige um cuidado a mais, mas certamente com esse esclarecimento, os resultados são incríveis. Eu tive economia, mas tive suporte adequado e precaução para isso acontecer. Por isso sou temeroso de sair dizendo que construí uma casa de mais de 300m² com menos de R$ 1000,00 o m². Não quero gerar conclusões precipitadas e sem o correto embasamento.


      Obrigado pela visita e contribuição!

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