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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Dilema da Escada

O Não Planejado Torna-se Complicado


Lá no ano passado, quando ainda estávamos no levante da alvenaria, surgiu uma sugestão de uma pessoa alheia a todo o projeto que viria a mudar pouco mas profundamente a casa e um cômodo em específico. Foi o que abordei em dois posts antigos, como o Mudanças em Vôo e Mezanino.

Ocorre que, como toda mudança de última hora, não houveram só benefícios, temos agora uma "pequena" consequência para lidar nessa fase de acabamento. Como esse mezanino não foi devidamente planejado, temos agora que pensar na escada de acesso ao mesmo, algo que poderia estar muito bem definido no projeto e tornar bem mais simples a execução.

De fato a complicação desse novo espaço foi mínima. A alvenaria praticamente não teve grandes alterações, não foram necessárias mudanças de espaços e o ganho foi além de ter um novo cômodo - um futuro escritório. O ganho maior foi não precisar colocar abaixo uma laje toda, o que daria bem mais trabalho do que simplesmente elevar as paredes acima dessa laje, o que já seria feito independente da existência do cômodo.

Mas como nem tudo são flores, surgiu dificuldade no acesso a esse segundo piso uma vez que o espaço do hall onde poderíamos lançar uma escada é reduzido e impede que seja feito como gostaria que fosse, com medidas suficientemente confortáveis e possibilidades muitas de fazer uma bela escada. Ao longo da construção quebrei a cabeça com a tal Lei de Blondell que "estabelece a seguinte equação como fórmula correta para que o utilizador possa desempenhar a tarefa de subir as escadas: 2 espelhos + 1 piso = 64cm". Logo, "a relação ideal é espelho=18cm e piso=28cm". Se consideramos que a altura a se vencer é de 2,50 m de piso a piso, dividindo isso pela altura ideal dos espelhos (18 cm), chegamos a necessidade de 14 espelhos (arredonda pra cima). Dentro desse paradigma, teria espelhos de 17,857 cm e pisos de 28,28 cm (cálculos, vide referência). Perfeito, estamos dentro da Lei de Blondell e com medidas bastante confortáveis. O problema aparece quando calculamos quanto de espaço a escada vai ocupar na planta baixa, seu comprimento horizontal. Nessa linha, seriam 13 pisos de 28,28 cm, o que totaliza 3,67 metros. Simplesmente não temos esse comprimento no hall, estamos limitados a 3,35 m e há ainda uma porta a se considerar exatamente na parede onde poderia ficar encostada a escada. Uma imagem explica melhor:



Essa vista frontal representa esse local:



Logo, não conseguiria colocar uma escada reta nesse local, obstruiria de alguma forma a porta e não permitira um acesso adequado. Passei então para olhar as caracóis, escadas em espiral com raio mínimo de 1,20 m. Ficaria assim, na melhor das hipóteses (exaustivamente imaginadas):


Acabei tendo que virar amigo do AutoCAD

Como ficaria a visão estando no quintal da casa, na porta dos fundos que dá acesso ao hall:



Resolveria o problema de espaço, mas apresentaria dois riscos: o leque da escada ocuparia a passagem para a porta dos fundos da casa, alguns degraus ficariam em uma área de movimentação e em baixa altura (+/- 1,60 m). Também tem o fato de que, com o raio de 1,20, descontando corrimão dos dois lados e tubo central (4"), teria uma escada com largura de 50 cm, extremamente pouco! Não estava feliz.

Eis que me lembrei de Santos Dumont, o nosso pai da aviação (perdeu irmãos Wright!), que desenvolveu uma escada de meio degrau em sua casa em Petrópolis, onde se sobe alternando a pisada, para facilitar a subida nessa escada que costuma ser instalada em inclinação bem superior a uma escada reta comum. Inicialmente, os vários contatos que fiz para orçar opções para minha casa, disseram não ser possível construir uma escada assim lá. Me desencorajaram, quase fui na caracol, mas tenho certeza que ia me arrepender e viver reclamando daquele trambolho obstruindo meu hall, minha visão do fundo da casa e meu pôr-do-sol, motivo pelo qual quis fazer uma porta de 1 metro no fundo da casa, alinhada com a passagem da sala para o hall (nascente e poente visível do sofá da sala). Se eu não fosse insistente...

Até que nas pesquisas, me deparei com isso:



Isso era exatamente o que eu procurava em visual, em espaço, em todos os detalhes. Não sei exatamente a projeção original desse modelo, mas tratei logo de chamar um serralheiro, fazer contato com marceneiros/carpinteiros e discutir com eles sobre meu projeto. Essas escadas costumam ser instaladas com inclinação de 60º com relação ao piso, o que a faz com que ela ocupe pouco espaço na planta baixa. Com menos de 2 metros consigo colocar uma escada que vença os 2,50 m, sobrando espaço para um patamar e um recuo na entrada da escada. Algo como:



Claro que não será uma escada 100% aderente as normas defendidas pela NBR e adotadas por bombeiros, por exemplo. Escadas meio degrau não são totalmente confortáveis. Obviamente também não vou construir nada que seja inseguro a ponto de se tornar arriscado. Mas como o acesso a esse ambiente deve ser restrito e dado que essa é a solução mais harmoniosa que atende a necessidade sem tantos poréns, acredito que será essa a saída que adotaremos. Se toda em madeira ou ainda se estrutura em ferro e degraus em madeira, ainda não sei. Estou atrás dos orçamentos e na batalha para avançar a obra até que tudo esteja pronto para receber essa escada, que completará o cômodo mais charmoso da casa.




4 comentários:

  1. Olá Wagner,
    Em primeiro lugar, meus parabéns pelo blog, pelas informações, pela casa e principalmente pela disponibilidade em responder à todos que o solicitam.
    Estou na fase de projeto da minha sonhada casa, e gostaria muito de usar tijolos solo-cimento na minha construção. Já falei com meu arquiteto a respeito dessa material e ele mesmo confirmou a sua informação de necessidade de mão de obra especializada. Minha dúvida começa na difícil decisão de usar ou não e se vale mesmo a pena, financeiramente, usar esses tijolos sem levar em conta a enorme contribuição ao meio ambiente que esses tijolos dão desde a sua fabricação.
    Decidido utilizar esse tijolo, as dúvidas seguem. Há sempre a necessidade de aplicar a resina internamente? Não pretendo fazer a casa toda de tijolo à vista, apesar de ficar linda. Mas pretendo aplicar gesso por dentro, pintar e aplicar texturas por fora.
    Enfim são tantas dúvidas e questionamentos que até me embanano todo pra te explicar. Já li seus posts antigos e tirei muita informação.

    Mas me ajude!!!!!!

    Vale a pena usar esses tijolos, mesmo que eles não fiquem aparentes?
    Aplica-se gesso direto na face dos tijolos sem a necessidade de reboco?
    O prumo e nível são garantidos devido aos encaixes?

    Desde já agradeço sua paciência e ajuda.
    Deus te abençoe e ajude a terminar a sua casa.

    Grande abraço,
    Thiago

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    1. Olá Thiago,

      Agradeço os elogios e os votos! Com certeza vou sair vitorioso dessa empreitada e espero com isso facilitar ou ajudar as pessoas que por ventura encararem esse desafio também.

      Vamos lá: a escolha do tijolo depende de muitos fatores. Estou produzindo um post para tentar criar um roteiro de avaliação para auxiliar nessa tomada de decisão, pois ela não é simples.

      Inicialmente, te sugeriria pensar/pesquisar sobre a realidade do tijolo solo-cimento na sua região. É fácil adquiri-lo? Há fornecedores confiáveis e com bons prospectos? E a mão de obra, é de fácil acesso, a valores adequados? Isso é para mim o primeiro passo para se começar a pensar na adoção dessa solução. É desejável que se encontre respostas positivas para essas perguntas acima, pois a partir daí se torna viável construir usando o tijolo.

      Depois disso, eu avaliaria junto a seu arquiteto, os aspectos de seu projeto na concepção do tijolo solo-cimento. A modulação se adapta bem as dimensões e pretensões? O local, finalidade, aspectos arquitetônicos e estruturais serão facilmente endereçados com o tijolo ou podem representar algum empecilho? Citando exemplos simples, uma casa em região bastante úmida, exigirá maiores cuidados com o tijolo aparente. Grandes vãos, número de pavimentos e características do solo podem direcioná-lo a soluções que se tornem mais práticas para o que se espera da casa construída. Não vejo limitações no uso do tijolo solo-cimento em uma casa convencional, mas é algo que precisa ser avaliado para evitar complicações.

      No aspecto econômico, há muitas variáveis a se considerar, mas de forma geral eu acredito que para uma casa comum têm-se grandes ganhos com economia de tempo, de materiais básicos e uma praticidade inigualável. Há aí dimensões mensuráveis e outras não. Se formos olhar para o consumo de cimento, areia, pedrisco e ferragem, temos grande economia. Não há reboco, não há tijolos assentados em massa, a quantidade de vergalhões é bem mais reduzida, é o melhor dos mundos nesse aspecto, só deve perder para construções pré-moldadas. Além disso, sem o quebra-quebra para passagens hidráulicas e elétricas, há bem menos produção de entulho, algo que vem se tornando um custo importante de se considerar. Já na questão tempo e praticidade, não é tão fácil precificar os ganhos, mas dá para colocar uma casa toda como a minha, de pé e acabada em 4 meses, usando equipe bastante reduzida. Outro fator diferencial é a inteligência desse tipo de construção, pois a necessidade de um projeto hidráulico e elétrico prévio com certeza constrói uma casa mais fácil de manter, utilizar e preservar. Isso é um ganho e tanto, eu como engenheiro valorizo bastante.

      Em resumo: veja que procurei não colocar muitas afirmações e sim questionamentos. Isso porque acredito que só você e seu arquiteto podem bater o martelo. Não dá para afirmar nada olhando parcialmente os fatores. Economia financeira, por sí só não pode ser assumida como fator de decisão. Por isso sou muito crítico dos discursos que encontro por aí sobre o tijolo solo-cimento, que na imensa maioria só ressaltam essa questão, prometendo até algo não linear como economias de 40% por exemplo. Isso só é válido para um escopo reduzido, para uma planta muito simples e previsível. Cada caso é um caso e o proprietário é que precisa encontrar as justificativas que validem sua escolha.

      (Continua)

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    2. Sobre o gesso aplicado na parede, isso é altamente viável e a solução ideal para quem não quer o tijolo aparente. Há um tratamento a ser feito antes da aplicação com um produto impermeabilizante, confesso que não sei agora qual é, fiquei em dúvida sobre o Selaplus, Vedapren, Bianco ou o Mactraset. Algum desses é! rs Eu anotei todos aqui, mas com certeza o pedreiro que já fez essa impermeabilização antes do reboco, saberá que deve ser feito também antes do gesso. O próprio gesseiro deve recomendar isso. Com certeza é bem mais barato que a resina acrílica, que só vai entrar em cena se você quiser deixar o tijolo aparente. O trabalho com certeza será facilitado pelo cuidado do pedreiro em subir tudo com nível e prumo, além de esquadro nos cantos. Isso nem deve ser visto como diferencial, é exigência obrigatória da alvenaria.



      Enfim, avalie bem. Não sou do tipo evangelizador do tijolo solo-cimento, prefiro ser imparcial. Funcionou para mim, construiria de novo (devo abordar essas condições isso em um post futuro), estou satisfeito com os resultados, mas meu universo é muito reduzido e ainda estou no processo de avaliação dos resultados de todo esse trabalho. Meu papel aqui no blog é apresentar o método nu e cru, sem máscaras, sem tendência ou deslumbramento.

      Boa sorte e conte comigo para o que precisar.

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    3. Olá Wagner,
      Saiba que a sua imparcialidade é que nos mantém ligados no seu Blog.
      É importante saber que não estamos obtendo informações de um vendedor de tijolos, mas de um profissional que busca a certeza de usar uma opção onde podemos ser verdadeiramente "ecológicos" e econômicos usando tecnologias inteligentes.

      Agradeço o seu empenho e disponibilidade.

      Quanto ao meu projeto, estamos finalizando a definição das plantas e layouts, creio estar no momento certo de decidir pelo uso ou não dos tijolos solo-cimento.
      Analisando o mercado da minha região (Vale do Paraíba - SP) estou em contato com 3 fornecedores que em média cobram R$690,00 o milheiro do tijolo solo-cimento (sem um estudo dos fornecedores quanto à qualidade dos tijolos).

      Não tenho muitas informações a respeito da mão de obra, porém, assim que eu obtiver melhores informações que provem, ou não, os benefícios do uso tijolo na minha região, compartilho com você para que outros "curiosos" como eu possam sanar suas dúvidas.

      Bom, desde já agradeço seu apoio e atenção.

      Estamos ligados aguardando novos posts!

      Grande abraço!
      Thiago

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